Primeiro-esquerdo

Nostalgia

Nestes dias que se prolongam por minutos passados a rever estórias seladas em diários, em folhas soltas, em guardanapos de papel, a nostalgia bate forte, como uma porta com a corrente de ar. A pele arrepia-se a cada passo que a consciência dá. O passado começa a ter muitos pontos e muitos parágrafos. O futuro estreita-se e eu só consigo pensar: nas papas de fruta, nas directas a estudar, no Lip, nas paredes dos meus quartos de Braga, nos amigos da Ana, da Ana enroscada no cobertor, nas conversas com a Raquel, as leituras na cadeira da Raquel, a tua poesia e pensamentos, na chegada da Paula, o teu carro, o teu apito, os teus jantares, as confidências com a Lila, o tempo da Ana Filipa, o teu andar até à UM. "O podia ter feito mais" é uma amarra que não me sai da cabeça. E depois do Adeus, o que se segue? As minhas loucuras estão apagadas, não tenho membros de partilha. Não sei ser louca fora daquele espaço. Há muito fora em mim. Tudo que faz parte de mim está, irremediavelmente distante. Tudo parece oceano e eu sou, apenas areia. Aquém. Sou vento sem sopro. Sou barco sem leme. Sou lareira sem lenha. Sou incompleta. Tenho as mãos vazias e uma alma à deriva. Nunca me disseram que iria ser fácil. Eu é que não pensei que fosse difícil. Saudade. Toda eu.

Joana

publicada por primeiro-esquerdo @ 22:56